As condições históricas fundamentais e contingentes da teoria da maximização do valor ao acionista
Conteúdo do artigo principal
Resumo
O objetivo do artigo é descortinar as condições essenciais e contingentes da “teoria da maximização do valor ao acionista” (TMVA) (ou primazia do acionista). Essa teoria apregoa que o objetivo principal da grande empresa é gerar retorno econômico aos seus acionistas. Essa teoria obteve grande difusão desde o século XIX, influenciando o modo de condução das corporações. A crítica à teoria sugere que essa influência é problemática por levar as grandes empresas a decisões de curto prazo que colocam em segundo plano questões públicas, sociais e ambientais, ameaçando a existência do próprio capitalismo. A origem dessa teoria é controversa ao mesmo tempo em que o tema é condição de melhor entendimento de seu conteúdo e desenvolvimento históricos. O artigo, fundamentado no materialismo, argumenta que não é possível compreender corretamente uma forma social de consciência sem a apreensão de sua gênese. Assim, o artigo procede à análise da gênese da TMVA, procurando estabelecer tanto os fundamentos de sua constituição a partir da unidade entre finança e produção na econômica capitalista quanto os fatores contingentes, como as crises e o debate público, que afetaram o próprio desenvolvimento dessa teoria.
Detalhes do artigo

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Desde que se atribua crédito ao/à criador/a original, a licença permite que outras pessoas usem, façam adaptações e compartilhem a obra para fins não comerciais. Isso significa que o uso da obra não pode ser feito visando auferir rendimento comercial.
Referências
AMBROSINO, A.; CEDRINI, M.; DAVIS, J. B. “Economics imperialism and economic imperialism: two sides of the same coin”. Review of Political Economy, Durham, v. 37, n. 1, p. 245-263, 2025. DOI: 10.1080/09538259.2023.2247358.
APPELBAUM, B. The economists’ hour: false prophets, free markets, and the frac-ture of society. New York: Little, Brown and Co., 2019.
BERLE, A. A. “For whom corporate managers are trustees: a note”. Harvard Law Review, v. 45, n. 8, p. 1365-1372, 1932. DOI: 10.2307/1331920.
BERLE, A. A. “Corporate powers as powers in trust”. Harvard Law Review, v. 44, n. 7, p. 1049-1074, 1931. DOI: 10.2307/1331341.
BOWER, J.; PAINE, L. “The error at the heart of corporate leadership”. Harvard Bu-siness Review, Boston, maio-jun, 2017. Disponível em: <https://hbr.org/2017/05/the-error-at-the-heart-of-corporate-leadership>. Acesso em: 12/08/2025.
BUKHARIN, N. The economic theory of the leisure class. New York: International Publishers, 1927.
BUSINESS ROUNDTABLE. “For long-term success, companies must deliver for all stakeholders”. Business Roundtable, [s.l.], 19/08/2022. Disponível em: <https://www.businessroundtable.org/for-long-term-success-companies-must-deliver-for-all-stakeholders>. Acesso em: 12/08/2025.
BUSINESS ROUNDTABLE. “Business roundtable redefines the purpose of a corpo-ration to promote ‘an economy that serves all Americans’”. Business Roundtable, [s.l.], 19/08/2019a. Disponível em: <https://www.businessroundtable.org/business-roundtable-redefines-the-purpose-of-a-corporation-to-promote-an-economy-that-serves-all-americans>. Acesso em: 12/08/2025.
BUSINESS ROUNDTABLE. “Our commitment”. Business Roundtable, [s.l.], 2019b. Disponível em: <https://yellowhammernews.com/wp-content/uploads/2019/08/Business-Roundtable-Wall-Street-Journal-Ad2-copy.pdf>. Acesso em: 28/11/2025.
BUSINESS ROUNDTABLE. “Principles of corporate governance”. Business Roundtable, [s.l.], 2016. Disponível em: <https://s3.amazonaws.com/brt.org/Principles-of-Corporate-Governance-2016.pdf>. Acesso em: 12/08/2025.
BUSINESS ROUNDTABLE. “Statement on corporate governance”. Business Roundtable, [s.l.], set, 1997. Disponível em: <https://www.ecgi.global/sites/default/files/codes/documents/businessroundtable.pdf>. Acesso em: 12/08/2025.
CHANDLER, A. “Estradas de ferro: pioneiras da moderna administração de empre-sas”. In: CHANDLER, A. Ensaios para uma teoria histórica da grande empre-sa. Rio de Janeiro: FGV, 1998.
CHASIN, J. O integralismo de Plínio Salgado. São Paulo: Editora Ciências Humanas, 1978.
CHESNAIS, F. “O capital portador de juros: acumulação, internacionalização, efei-tos econômicos e políticos”. In: CHESNAIS, F. (org.). A finança mundializa-da. São Paulo: Boitempo, 2005.
CHESTER, B. The functions of the executive. Cambridge: Harvard University Press, 1956 [1938].
COMPANIES under pressure to declare “social purpose”. Financial Times, Londres, 22/08/2019. Disponível em: <https://www.ft.com/content/7ba44ea8-c4f7-11e9-a8e9-296ca66511c9>. Acesso em: 12/08/2025.
DENNING, S. “Making sense of shareholder value: ‘the world’s dumbest idea’”. Forbes, [s.l.], 17/07/2017. Disponível em: <https://www.forbes.com/sites/stevedenning/2017/07/17/making-sense-of-shareholder-value-the-worlds-dumbest-idea/?sh=452dae592a7e>. Aces-so em: 12/08/2025.
DENNING, S. “The dumbest idea in the world: maximizing shareholder value”. For-bes, [s.l.], 28/11/2011. Disponível em: <https://www.forbes.com/sites/stevedenning/2011/11/28/maximizing-shareholder-value-the-dumbest-idea-in-the-world/>. Acesso em: 12/08/2025.
DOBB, M. Teorias do valor e distribuição desde Adam Smith. Lisboa: Editorial Pre-sença; São Paulo: Martins Fontes, 1977.
DODD, E. M. “For whom are corporate managers trustees?”. Harvard Law Review, v. 45, n. 7, p. 1145-1163, 1932. DOI: 10.2307/1331697.
DRUCKER, P. The practice of management. [S.l.]: Elsevier, 2007 [1955].
FRIEDMAN, M. “The social responsibility of business is to increase its profits”. In: ZIMMERLI, W. C.; HOLZINGER, M.; RICHTER, K. (eds.). Corporate ethics and corporate governance. Berlin: Springer, 2007 [1970]. DOI: 10.1007/978-3-540-70818-6_14.
FRIEDMAN, M. Capitalism and freedom. 40ª ed. Chicago: The University Chicago Press, 2002 [1972].
GUEDES, L. T.; PAÇO CUNHA, E. “Financiamento do capital fixo (1970-2012): dis-solvendo o paradoxo aparente entre financeirização e autofinanciamento em contexto de queda da taxa de lucro”. Revista Brasileira de Estudos Orga-nizacionais, v. 8, n. 1, p. 16-54, 2021. Disponível em: <https://rbeo.emnuvens.com.br/rbeo/article/view/394/pdf>. Acesso em: 07/03/2024.
HILFERDING, R. O capital financeiro. São Paulo: Nova Cultural, 1985.
HOLMBERG, S.; SCHMITT, M. “The Milton Friedman doctrine is wrong. Here’s how to rethink the corporation”. Evonomics, [s.l.], 09/06/2016. Disponível em: <https://evonomics.com/milton-friedman-doctrine-wrong-heres-rethink-corporation/>. Acesso em: 12/08/2025.
JENSEN, M. C.; MECKLING, W. H. “Theory of the firm: managerial behavior, agency costs and ownership structure”. Journal of Financial Economics, v. 3, n. 4, p. 305-360, 1976. DOI: 10.1016/0304-405X(76)90026-X.
KEYNES, J. M. “The general theory of employment, interest and money”. In: KEYNES, J. M. The collected writings of John Maynard Keynes. v. VII. Cam-bridge: Cambridge University Press, 2013.
KOELLER, T.; GOEDHART, M.; WESSELS, D. Valuation: measuring and managing the value of companies. 6ª ed. [S.l.]: John Wiley & Sons, 2016 [1990].
LENIN, V. I. O imperialismo: etapa superior do capitalismo. Campinas: FE/UNICAMP, 2011.
LUKÁCS, G. A destruição da razão. São Paulo: Instituto Lukács, 2020.
MARTIN, R. Fixing the game: how runway expectations broke the economy and how to get back to reality. Boston: Harvard Business Review Press, 2011.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. Livro 1. O processo de produção do capital. 1ª Ed. São Paulo: Boitempo, 2013.
MÉSZÁROS, I. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. São Paulo: Boi-tempo, 2015.
PAÇO CUNHA, E. Determinação social do pensamento econômico na unidade do método materialista. Belo Horizonte: Verinotio Livros, 2025. Disponível em: <https://www.verinotio.org/sistema/index.php/verinotio/article/view/764>. Acesso em: 17/11/2025.
PAÇO CUNHA, E. “O problema da eficácia das formações ideais: o pensamento econômico como ideologia”. Verinotio, Rio das Ostras, v. 29, n. 2, p. 01-23, 2024. Disponível em: https://www.verinotio.org/sistema/index.php/verinotio/article/view/725/711. Acesso em: 12/08/2025.
PAÇO CUNHA, E. “Problemas selecionados em determinação social do pensamen-to”. Verinotio, Rio das Ostras, v. 28, n. 1, p. 123-146, 2023. DOI: 10.36638/1981-061X.2023.v28.663.
RAPPAPORT, A. Creating shareholder value: the new standard for business. New York: Free Press, 1986.
RUBIN, I. A history of economic thought. Londres: Ink Links, 1979.
SHAREHOLDER value is no longer everything, top C.E.O.s say. New York Times, [s.l.], 19/08/2019. Disponível em: <https://www.nytimes.com/2019/08/19/business/business-roundtable-ceos-corporations.html>. Acesso em: 12/08/2025.
SHAREHOLDER value: the enduring power of the biggest idea in business. The Eco-nomist, [s.l.], 31/04/2016. Disponível em: <https://www.economist.com/business/2016/03/31/analyse-this>. Acesso em: 12/08/2025.
SIMONSEN, R.; GUDIN, E. A controvérsia do planejamento na economia brasileira. 3ª ed. Brasília: IPEA, 2010. Disponível em: <https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3183/1/livro_A_controv%c3%a9rsia_do_planejamento_na_economia_brasileira_3ed.pdf>. Acesso em: 12/08/2025.
STIGLER, G. J. “The case against big business”. Fortune, [s.l.], v. 45, n. 5, 1952.
SUPREME COURT OF MICHIGAN. Dodge v. Ford Motor Co., 204 Mich. 459, I70 N. W. 668. 1919. Disponível em: <https://case.law/caselaw/?reporter=mich&volume=204&case=0459-01>. Acesso em: 28/11/2025.
SWEEZY, P.; MAGDOFF, H. Dynamics of U.S. capitalism. New York: Monthly Re-view Press, 1972.
WAPSHOTT, N. Keynes Hayek: the clash that defined modern economics. New York: W. W. Norton, 2011.
ZINGALES, L.; KASPERKEVIC, J.; SCHECHTER, A. Milton Friedman 50 years later. [S.l.]: Stigler Center, 2020. Disponível em: <https://www.promarket.org/wp-content/uploads/2020/11/Milton-Friedman-50-years-later-ebook.pdf>. Acesso em: 12/08/2025.